Saturday, April 07, 2012

Coisas que eu não entendo desde um ponto de vista de nós, os ricos.




Que miséria existe é um fato e todo mundo (seja solidário ou não) sabe, né não? Até os que acham que as pessoas que vivem nessa miséria a merecem. Até os que inclusive acham que estes indivíduos são um tipo de ser humano inferior e não são capazes de serem melhores porque está "no sangue" deles. Todos sabem que a pobreza e a miséria existem.

Eu posso também imaginar que esse pessoal, que pensa que os pobres e os miseráveis merecem a sua pobreza e a sua miséria, não entende muito as origens destas porque nunca se proporam a investigar, ou quando se falou sobre política, história do Brasil e do mundo na escola eles tavam muito ocupados com os dramas da modernidade... Desde que nasceram o país é assim e nada se pode fazer. Posso imaginar bem também, porque infelizmente conheço gente dessa estirpe, que nenhum deles procurou ler a respeito em livros extra curriculares. Sei que nenhum deles lêem publicações isentas, já que essas, quase não existem, especialmente em Recife. E sei, que em pouquíssimos casos, essas pessoas procuraram se misturar ou escutar a esses pobres e miseráveis, mesmo quando eles trabalham na suas casas aquelas 8h por dia que constam no contrato - quando são somente 8 horas e quando existe algum contrato!

Eu imagino que muitos desses, que pensam que os pobres e miseráveis merecem a pobreza e a miséria, viajaram um pouco pelo mundo. Porque esse pessoal, em geral, tem dinheiro. E viajar é uma coisa que a pessoa faz quando se tem dinheiro. Mesmo essas pessoas, que ao meu ver, possuem lacunas gravíssimas no seu repertório de informação sobre o mundo, especialmente quando estas vivem numa cidade como Recife, onde essas informações são dados gritantes do dia a dia de todos, todas elas são providas de um cerébro que pensa. Muitas delas, dentro do seu contexto, são pessoas razoáveis e inteligentes. Muitas delas falam vários idiomas, têm títulos de universidades renomadas dentro e fora do país. Muitas já experimentaram a delícia que é pegar um metrô ou de estacionar o carro tarde da noite sem sentir medo, de andar na rua, alguns até se atreveram em usar a bicicleta como meio de transporte! Muitos deles desfrutaram e conhecem essa sensação. Muitos não voltam nunca pro Brasil porque preferem viver nessa paz e eu entendo isso.

Esse pessoal provavelmente notou que a diferença básica entre esses países onde se pode andar na rua sem medo e o Brasil é que nas cidades brasileiras, além deles, que têm seguro de saúde, carro do ano, segurança na portaria, cerca elétrica, empregada na cozinha e iPod no bolso, existem uma quantidade enorme de gente pobre e miserável que vive e sustenta 4 filhos e 1 neto o mês inteiro com o dinheiro que eles usam numa noitada. Todo mundo sabe que tem gente que nem um salário tem. Todo mundo sabe o valor do salário mínimo. Todo mundo sabe que a maioria dessas pessoas pobres e miseráveis não têm o mínimo para garantir o não desespero no dia a dia: saúde, educação, moradia digna, direitos básicos, etc.

Um último ponto e depois eu concluo:

Ninguém, nem os que a sofrem passivamente ou ativamente, gosta da violência. Mas estamos aqui, analisando o ponto de vista dos ricos: ninguém gosta de andar pelo mundo com medo de ter o carro, o laptop, o relógio, o iPhone roubado né? Ou pior, ser sequestrado, violentado fisicamente, as vezes com armas de fogo. Muitos estão até habituados a essa vida absurda entre grades, câmeras e seguranças, e nem se lembra que a vida foi e é possível sem essa parafernália. Mas ninguém realmente gosta dessa sentimento de inseguridade para sair de casa e conviver com o porteiro, a empregada, o homem do coco, o guardador de carro, etc.

Pois é, a coisa que eu não entendo é a seguinte:

Supondo que esse pessoal, tão chique, tão viajado, tão cheio de títulos, não estejam nem aí pra o destino e a origem dos que infelizmente não tiveram a mesma sorte e são pobres e miseráveis. E que achem mesmo que eles merecem a posição que ocupam nesta sociedade. Mesmo assim, nessa incrivelmente triste mas real hipótese: será que ninguém chegou a desconfiar que talvez essa diferença entre eles e os pobres e miseráveis é um motivo importante dessa violência toda entre os indivíduos da sociedade brasileira? Será que nenhum deles, nem que seja por uma razão puramente egoísta de viver a própria vida com um pouco mais de paz, pensou nisso? E nenhum deles está disposto a, pelo menos, concordar com políticas mínimas para amenizar esse problema?

Pronto. É isso que eu não entendo.

"Quais políticas? Como fazer?" - questionariam os ricos mais bem intencionados. Existem várias outras coisas que valem a pena discutir a partir daqui. Como por exemplo, a outra "modalidade" de violência sofrida, neste caso, por essas pessoas pobres e miseráveis, provinda de representantes institucionalizados da sociedade. Esses são assuntos importantes e inevitáveis, mas por enquanto eu vou ter que pedir ajuda aos universitários, licença a vocês leitores e retirar-me que já é tarde. Um beijo a todos, ricos e pobres!

2 comments:

Carros envenenados said...

Isso é verdade e concordo, pois os ricos também choram e os pobres mais ainda...

Anonymous said...

muito bem posto! me sinto representado nas tuas belas frases! um olhar perspicaz sobre Recife